Legado de lições da JMJ
Esse testemunho do Papa Francisco toca
especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente, anseios e dinâmicas
próprias dessa fase da vida
A Jornada Mundial
da Juventude 2013 (JMJ), festa da fé realizada no Rio de Janeiro, deixa um
legado de lições a serem vivenciadas pela Igreja Católica e por toda a
sociedade. Três delas se destacam. Em primeiro lugar e acima de tudo está a
evidência da significação da presença e da centralidade de Deus na vida de cada
pessoa e da sociedade. Destaca-se também o testemunho luminoso do Papa
Francisco, configurado em simplicidade, ternura, transparência e proximidade,
na sua primeira visita internacional, ainda bem no início de sua missão como
sucessor do apóstolo Pedro. E no coração deste cenário, obviamente, a razão da
Jornada Mundial da Juventude, a presença maciça e envolvente dos jovens
procedentes do mundo inteiro. Essas lições se desdobram em muitas outras
constituindo a Jornada Mundial da Juventude como fonte de referência.
A presença de Deus
no coração de cada pessoa e no grandioso coração da multidão reunida nas ruas e
praças, no aconchego das famílias, nas igrejas ou nos ambientes de trabalho e
lazer, muda tudo. Abre caminhos na direção do bem e fortalece a convicção de
que o amor conduz à fundamental afirmação da vida, lugar comum e inegociável do
encontro de todos com suas afinidades e diferenças.
A análise simples
do que ocorreu nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, particularmente nos
eventos em Copacabana, especialmente a congregação de mais de três milhões de
pessoas na Missa de envio, encerrando uma verdadeira “maratona da fé”, comprova
o diferencial em razão da centralidade de Deus. Sua presença no coração de cada
um configurou uma grande comunidade, pela fé e pelo amor, de irmãos e irmãs de
diferentes raças, línguas, povos, culturas e procedências. Um nível de unidade
e fraternidade, sem incidentes ou violências, que só a presença amorosa de Deus
consegue articular e manter.
Particularmente,
merece atenção o admirável silêncio ante o mistério ali celebrado. Silêncio
amoroso e de reverência que, certamente, Copacabana jamais presenciou. Essa
força de Deus é uma lição para uma nação laica, por suas razões
constitucionais, mas com um povo que preza e se sustenta pelo tesouro de sua
fé. Uma realidade que adverte e pede a atenção de governantes e construtores
dessa sociedade pluralista. Que torna imprescindível considerar esse horizonte
de lições se quiserem dar consistência a projetos sociais e políticos no
atendimento das demandas do povo.
O testemunho do
Papa Francisco, luminoso por seu caráter evangélico e pela proximidade do seu
jeito de ser ao de nosso Mestre Jesus Cristo, ilumina o horizonte do caminho
missionário da Igreja. Verdadeiro discípulo do Senhor, Francisco ajuda a
sociedade a buscar, de modo imprescindível, a fraternidade e a solidariedade. A
proximidade junto a todos, especialmente pobres, sofredores, crianças, sua
palavra simples, direta e densa de interpelações, tudo cultivado com a alegria
de ser servidor de todos, consolida um rumo novo no caminho evangelizador da
Igreja. Oferece muito, ou quase tudo o que a sociedade necessita aprender para
ser mais justa e solidária.
Por isso mesmo, o
testemunho do Papa Francisco, na gravidade de sua responsabilidade e no peso da
repercussão singular de seus gestos e palavras, reafirma o horizonte que deve
sempre orientar o caminho da Igreja e de todos os discípulos de Jesus. É
primordial essa sua missão como sucessor do apóstolo Pedro, o escolhido por
Cristo para presidir o colégio dos primeiros apóstolos. Início do caminho bimilenar
da Igreja Católica, que atravessa os tempos pela força de testemunhos como o do
Papa Francisco.
Sua missão assim
vivida aponta decisivamente o rumo e o rosto de nossa Igreja. Fortalece
testemunhos, alarga o comprometimento com uma Igreja simples, pobre, próxima,
hospitaleira, que testemunha o Evangelho de Jesus Cristo, nele alavancando
crescimentos. Virtudes reafirmadas de maneira eloquente na 5ª Conferência dos
Bispos Latino-Americanos e Caribenhos no Santuário de Aparecida, em 2007, com
presença e decisiva contribuição do então cardeal Bergoglio. Esse testemunho do
Papa Francisco toca especialmente a juventude, que tem uma presença envolvente,
anseios e dinâmicas próprias dessa fase da vida. Lições que indicam um lugar de
escuta e de aprendizagem para introduzir todos no tempo novo da Igreja e da
sociedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte
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