VATICANO, 06
Fev. 13 (ACI/EWTN Noticias) .- Em sua catequese
semanal da Audiência Geral das quartas-feiras, o Papa Bento XVI refletiu
novamente sobre o Credo, desta vez sobre Deus criador do céu e da terra, e
explicou que o Senhor cria tudo bom e que o ápice desta criação é o homem e a
mulher, criados para o amor e não para o pecado que "destrói tudo".
Ante
milhares de fiéis presentes na Sala Paulo VI no Vaticano, o Papa sublinhou que
"Deus se manifesta como Pai na criação, enquanto origem da vida e, ao
criar, mostra a sua onipotência. A fé implica, portanto, saber reconhecer o
invisível, identificando o seu traço no mundo visível".
"O
crente pode ler o grande livro da natureza e entender sua linguagem; mas é
necessária a Palavra de revelação, que suscita a fé, para que o homem possa
chegar à plena consciência da realidade de Deus como Criador e Pai".
O Papa
explicou a importância da criação, relatada no primeiro capítulo do livro do
Gênesis onde se pode ver que "a vida surge, o mundo existe, porque tudo
obedece à Palavra divina".
"Mas a
nossa pergunta hoje é: na época da ciência e da técnica, ainda tem sentido
falar de criação? Como devemos compreender as narrações de Gênesis? A Bíblia
não quer ser um manual de ciências naturais; quer, em vez disso, fazer
compreender a verdade autêntica e profunda das coisas".
O Santo
Padre ressaltou logo que "a verdade fundamental que os relatos de Gênesis
nos revelam é que o mundo não é um conjunto de forças entre conflitantes, mas
tem a sua origem e a sua estabilidade no Logos, na Razão eterna de Deus que
continua a sustentar o universo".
"Há um
desígnio sobre o mundo que nasce desta Razão, do Espírito criador. Acreditar
que na base de tudo esteja isto, ilumina cada aspecto da existência e dá
coragem para enfrentar com confiança e com esperança a aventura da vida".
"Então,
a escritura nos diz que a origem do ser, do mundo, a nossa origem não é o
irracional ou as nossas necessidades, mas a razão e o amor e a liberdade. Disto
a alternativa: ou prioridade do irracional, da necessidade, ou prioridade da
razão, da liberdade, do amor. Nós acreditamos nesta última posição".
Bento XVI
disse que o ápice da criação é o homem e a mulher, o ser humano, criados a
imagem e semelhança de Deus por amor e para o amor; que vivem o paradoxo de ser
algo pequeno no meio do universo, frente à grandeza do amor eterno que o Senhor
quer para todos.
O Papa
assegurou que a dignidade humana é inviolável porque é imagem e semelhança de
Deus, o que "indica, então, que o homem não é fechado em si mesmo, mas tem
uma referência essencial em Deus".
Depois de
ressaltar que o homem deve cuidar e cultivar a criação de acordo ao plano
divino, o Pontífice se referiu à tentação personificada pela serpente no relato
do Gênesis: "a serpente levanta a suspeita de que a aliança com Deus seja
como uma prisão que une, que priva da liberdade e das coisas mais belas e
preciosas da vida".
"A
tentação convida a construir sozinho o mundo no qual viver, não aceitar os
limites do ser criatura, os limites do bem e do mal, da moralidade; a
dependência do amor criador de Deus é visto como um fardo do qual libertar-se.
Este é sempre o núcleo da tentação. Mas quando se distorce a relação com Deus,
com uma mentira, colocando em seu lugar, todos os outros relacionamentos são
alterados".
Então,
continuou o Papa, "o outro transforma-se em um rival, em uma ameaça: Adão,
depois de ter cedido à tentação, acusa imediatamente Eva; os dois se escondem
da vista daquele Deus com o qual conversavam em amizade; o mundo não é mais o
jardim no qual viver com harmonia, mas um lugar para desfrutar e no qual se
escondem armadilhas; a inveja e o ódio contra a outro entram no coração do
homem: a exemplo de Caim que mata o próprio irmão Abel".
"Indo
contra o seu criador, na verdade o homem vai contra si mesmo, renega a sua
origem e também a sua verdade; e o mal entra no mundo, com a sua penosa prisão
de dor e de morte. E assim tudo quanto Deus havia criado era bom, na verdade,
muito bom, depois desta livre decisão do homem pela mentira contra a verdade, o
mal entra no mundo".
Bento XVI se
referiu logo ao pecado, concretamente ao pecado original, e disse que "em
primeiro lugar, devemos considerar que nenhum homem é fechado em si mesmo,
nenhum pode viver sozinho, por si só; nós recebemos a vida do outro e não
somente no momento do nascimento, mas a cada dia".
"O ser
humano é relacional: eu sou eu mesmo somente no tu e através do tu, na relação
do amor com o Tu de Deus e o tu dos outros. Bem, o pecado é perturbar ou
destruir a relação com Deus, esta é a sua essência: destruir a relação com
Deus, a relação fundamental, colocar-se no lugar de Deus".
"O
Catecismo da Igreja Católica afirma que com o primeiro pecado o homem "fez
a escolha de si mesmo contra Deus, contra as exigências da própria condição de
criatura e consequentemente contra o próprio bem" (n. 398). Perturbada a
relação fundamental, são comprometidos ou destruídos também os outros polos da
relação, o pecado arruína as relações, assim arruína tudo, porque nós somos
relações".
Ante a
realidade do pecado, explica o Santo Padre, "o homem sozinho não pode sair
desta situação, não pode redimir-se sozinho; somente o próprio Criador pode
restabelecer as relações certas. Somente se Aquele do qual nós fomos desviados
vem a nós e nos toma pela mão com amor, as relações corretas podem ser
retomadas".
Cristo é o
que restaura ao ser humano: "Jesus, o Filho de Deus, está em uma relação
filial perfeita com o Pai, reduz-se, transforma-se servo, percorre o caminho do
amor humilhando-se até a morte de cruz, para reordenar a relação com Deus. A
Cruz de Cristo transforma-se assim na nova árvore da vida".
Para
concluir o Papa disse: "Queridos irmãos e irmãs, viver de fé quer dizer
reconhecer a grandeza de Deus e aceitar a nossa pequenez, a nossa condição de
criatura deixando que o Senhor a transborde com o seu amor e assim cresça a
nossa verdadeira grandeza. O mal, com a sua carga de dor e sofrimento, é um
mistério que vem iluminado pela luz da fé, que nos dá a certeza de poder ser
libertos: a certeza de que é bom ser um homem".

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