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3. Os pecados contra a magnanimidade

A virtude da magnanimidade como todas as virtudes morais, se opõem pecados por defeitos e pecados por excesso.
Como defeito da magnanimidade se assinala a renuncia da grandeza da alma, a alma pusilânime. Por excesso a busca desordenada da honra que se concreta em três vícios: vangloria, presunção e ambição.

1) A vangloria

Como seu nome indica a vangloria é a busca da gloria fútil, perecedoura. O adjetivo “vão” quer dizer “vazio” e equivale a falso. A gloria ou reconhecimento por parte dos homens, pode chamar-se vã por vários motivos: ante tudo, quando versa sobre um bem inexistente ou um bem que não merece tal louvor (neste caso é estritamente uma gloria falsa, sem autentico motivo ou objeto) é também vão o louvor que provem dos que são incapazes de julgar adequadamente sobre o bem autêntico dos que julgam por critérios inadequados. As vezes se honra os virtuosos mas não pelo que é verdadeiramente honroso neles, se exaltam aos mártires porque não desistiram de suas convicções mas não enquanto testemunhas de Deus; se honra os grandes doutores do cristianismo não por ter contemplado a verdade divina, senão por ter feito um “nome imperecedouro” entre os sábios do mundo. O verdadeiro bem que merece gloria, é o bem interior, a virtude, e este não pode ser autenticamente valorizado pelos homens; por isso, em certo modo é vã toda a gloria humana; por isso disse a Sagrada Escritura: Vaidade das vaidades -diz Coélet- vaidade das vaidades tudo é vaidade! ( Ecle. 1,2) Examinei todas as obras que se fazem debaixo do sol. Pois bem, tudo é vaidade e correr atrás do vento! (Ecle.1.14) Os homens humanos sempre são precários.

É vã finalmente a gloria que prefere o tributo dos homens do que o louvor a Deus, como diz São João de alguns chefes de Israel: pois amaram mais a gloria dos homens do que a de Deus (jô.12. 43). A vangloria é uma grosseira parodia da magnanimidade, porque o vaidoso não deseja na realidade grandes coisas, senão pequenas coisas e pequenas honras que ele exalta como se fosse realmente valiosos. O magnânimo, pelo contrario, despreza aquilo  que para o vaidoso constitui tudo o mundo(35).

A vangloria ou vaidade é, um vicio capital, ou seja, que gera pecados. Dela nascem, ensina São Gregório Magno, a desobediência, a jactância, a hipocrisia, a disputa, a pertinência, a discórdia, e o afã de novidades(36).

2) A Presunção

A palavra presunção deriva de presumir que significa “tomar excessivamente”. Pode ter varias aceitações. Como ato intelectual, presunção designa o pensar arrogantemente da própria excelência(37) ou também o juízo temerário sobre os atos alheios ou coisas ocultas. Como ato da vontade pode designar o modo de atuar com temeridade consciente. Em sentido próprio é o vicio que implica “certa imoderação na esperança” ou “uma esperança desordenada” que origina na excessiva confiança e segurança de suas próprias forças.

A presunção designa na realidade dois vícios que tem entre si certa relação: a presunção humana e a presunção teologal. A humana é a que se opõe a propriamente a magnanimidade. É um tender a bens, empresas e honras desproporcionadas a pessoa, por um excesso de confiança nas próprias forças e uma falsa valorização das próprias qualidades e excelência, com um apego egoísta a elas. A presunção teologal é, ao contrario, “uma temerária e imoderada confiança em obter a bem-aventurança eterna por meios que não são ordenados por Deus”. O presunçoso não nega a substancia da esperança em Deus, nem deixa de apoiar-se no poder divino, nem se opõem por excesso quantitativo, senão que em realidade deforma e vicia a esperança. Ainda que em aparência exalte mais o poder divino e o auxilio de Deus, em rigor os rebaixa ao falsificar seu alcance. Ainda que são distintos os dois pecados se relacionam, e de alguma maneira o primeiro conduz ao segundo o qual é um dos pecados contra o  Espírito Santo.

O próprio do presunçoso é tender a bens verdadeiros e grandes, mas acreditando-se capaz deles só por suas forças quando na realidade estes o superam infinitamente. Se trata de outra magnanimidade falsificada. Entre o magnânimo e o presunçoso há um abismo que vai do erro a verdade. Ambos se crêem dignos de coisas grandes, mas o magnânimo se julga digno daquele para o qual é digno ao menos pela graça; o presunçoso acredita naturalmente digno do que o supera(38).

3) A ambição

O que caracteriza a ambição é o desejo imoderado da honra e muitas vezes o recurso de meios ilícitos para obter-los.
A diferença de ambicioso e presunçoso é que este ultimo tem grandes coisas apoiando-se em suas  próprias forças inadequadamente para ele; o ambicioso ao contrario não tem as grandes obras senão a honra que segue as grandes obras, quer saborear os frutos da grandeza sem provar as fadigas que exige, por isso se alegra quando alguém o toma por homem muito importante e o honra, e, pelo contrario se indigna e se enfurece se alguém lhe falta o respeito. O ambicioso no entanto só se interessa pela honra de qualquer maneira que seja e a qualquer custo, este vicio gera numerosos pecados com a falta de escrúpulos, a fraude, a hipocrisia, a adulação e a traição. O ambicioso é o que muitas vezes denominamos “trepador”.

4) A pusilanimidade

Por defeito, a magnanimidade se opõem a pusilanimidade.
O termo vem de “pussila anima”, alma pequena. Se denomina assim a timidez espiritualidade mesquinha. Esta pusilanimidade pode ser algo doentio ou culpável. É doentio ou inculpável quando provem de uma má educação familiar ou escolar. Muitas vezes os pais ou educadores “cortam as assas” dos que tem ou bem incapacidade educativa ou por envidia. Geram assim “psicologias de desamparo” ou “psicologias falsas” almas que necessitam de acorrer permanente a outros, como os pintinhos embaixo das assas da galinha.

As vezes pelo contrario é vício culpável. É o caso de quem se fecha as grandezas sendo capaz de alcança-las. Este fenômeno pode ter uma causa intelectual; a ignorância pecaminosa das próprias capacidades ou da autentica vocação. É pecaminosa quando provem da preguiça em medir as forças; é o pecado do que renuncia voluntariamente a “tentativa” de “fazer algo grande”. As vezes esta ignorância é conseqüências de vícios voluptuosos como a luxuria ou a gula, a animalização em que se submete o homem a estes pecados, deforma a imagem que ele mesmo tem de sua dignidade e vocação. Por isso diz Santo Tomas  que a alma impura esta condenada a pequenez e a pusilanimidade (40). Também pode ter uma causa afetiva como o temor ao fracasso em grandes empresas, a covardia ante o perigo, ou a falta de determinação para renunciar a certos apegos naturais.

Neste casos voluntários a pusilanimidade é um verdadeiro pecado. É o pecado que cometem os servos da parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14; Lc 19, 12), símbolo de todos os que deixam perder o brilho dos dons de Deus. O evangelho nos diz que Deus nos escolheu para que déssemos frutos (Jo 15, 16). Frutificar é um imperativo do evangélico, um dever e não um ato de generosidade. Por isso diz Santo Tomas: “Assim como pela presunção vai além da própria capacidade ao pretender mais do que se pode, assim o pusilânime falta ao negar-se a tender até o que é proporcionado a sua capacidade própria(41).

É um pecado porque condena a mediocridade a alma chamada a coisas grandes. E é um pecado mais grave quando afeta as almas consagradas e aos sacerdotes: “os que recusam ser Úteis ao próximo por medo da pregação, julgados com todo rigor, são réus de tantas coisas quanto são os atos que poderiam ter sido úteis aos demais”. Diz São Gregório citado por Santo Tomas(42).

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