Duc in altum - Navega Mar a Dentro


Para compreender adequadamente esta virtude há que vê-la em relação com três virtudes principais: a fortaleza, a esperança e a humildade.

Relaciona-se ante tudo com a fortaleza(9). A fortaleza é a virtude própria do apetite irascível, ou seja, do desejo de superação, tem relação com a força, com o enfrentamento da adversidade, com a luta material e espiritual. A magnanimidade faz que a fortaleza não se feche em pequenezes, em combates parciais da vida, senão que seja propriamente a virtude das grandes conquistas; faz que a fortaleza seja apetite de conquista universal e espiritual. E a acrescenta no que afirma São Paulo na carta aos Efésios: Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os principados, contra as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal, que povoam as regiões celestiais.(Ef. 6.12).

Em segundo lugar se relaciona com a esperança, tanto passional como virtuosa. A paixão da esperança é o movimento do apetite sensível que tende a um bem futuro, árduo, mas possível de alcançar. A dificuldade junto ao um bem desejado o faz mais atrativo; faz que a alma se dilate ou estenda em um impulso por apreender esse bem(10). A magnanimidade faz do homem que a possui se tornar um homem dado à esperança, ao impulso e ao empreendimento espiritual; um ser que olha a conquista do dificultoso como seu modo de vida. É claramente a característica psicológica dos grandes conquistadores como Hérman Cortés, Pizarro, Hernandarias, São Luiz Rei, São Fernando e inclusive figuras do paganismo como Alexandre Magno, Aníbal ou Julio César, dos missionários incansáveis como São Francisco Xavier, São Francisco Solano, Frei Motolinia, Ruiz de Montoya e todos os grandes missionários.  A magnanimidade se relaciona mais estreitamente com a esperança teologal. Neste caso os limites das duas virtudes se confundem, pois, como dizia São Boa Ventura “a substancia mesma do ato da esperança consiste em dilatar-se com magnanimidade até os bens eternos”(11). Diz Pieper que a magnanimidade é, junto com a humildade, um dos suportes da esperança teologal, e que a perca da esperança de modo pecaminoso tem duas raízes possíveis: ou a falta da magnanimidade, ou a falta de humildade. A magnanimidade é a atitude espiritual que caracteriza ao homem teologal. Por isso Santa Tereza dizia a suas freiras: “convém não rebaixar os desejos... Sua Majestade é amigo das ánimas animosas”(12).

Por ultimo, ainda que para os mundanos seja uma paradoxa inexplicável, a magnanimidade é uma virtude profundamente enraizada no homem humilde. Porque o magnânimo tende e busca ao grande, mas sabe que esse desejo de aspirar as coisas grandes é um dom divino e, no entanto não se pode alcançar só com suas forças humanas. Dizia São Paulo, Mas pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça a mim dispensada não foi estéril. Ao contrario, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que esta comigo (1 Cor. 15,10). O que é autenticamente magnânimo tende ao ótimo com plena consciência de Deus tem colocado esse desejo em seu coração, e que se trata de um dever mais que um direito (um dever para com Deus) e que por apoiar-se na graça e na Misericórdia divina pode-se confiar no êxito de suas tarefas. A humildade é necessária e complementaria a magnanimidade. Santo Tomas estabelece as relações entre ambas dizendo: “No homem há algo de grande que deriva dos dons divinos e tem também defeitos devido a debilidade da natureza humana. Pois bem, a magnanimidade faz que homem se considere digno de grandes honras, considerando os dons recebidos de Deus. Ao contrario a humildade faz que uma pessoa se despreze considerando seus próprios defeitos. Da mesma forma, a magnanimidade menospreza aos demais enquanto estão destituídos dos dons divinos; ao contrario, a humildade os estima como superiores enquanto estima neles os bens divinos. Assim se vê que a magnanimidade e a humildade não são virtudes contrarias, se bem parecem tender a coisas opostas na verdade partem de diversas considerações”(13).

Daí a formosa descrição do magnânimo que faz Pieper (14). “O magnânimo é aquele que acredita ter sido chamado ou capaz de aspirar ao extraordinário e se faz digno dele. O magnânimo é de certo modo, caprichoso; não se deixa distrair por qualquer coisa senão que se dedica unicamente ao grande, que é o que lhe apraz” (15). No entanto o magnânimo tem uma sensibilidade desperta  para ver onde esta a honra: ‘o magnânimo se consagra aquilo que proporciona grande honra’(16). Diz na Suma teológica ‘O desprezar a honra até tal ponto de não se preocupar em fazer aquilo que merece honra, é para ele motivo de castigo’(17). O magnânimo é imutável quando há uma desonra injusta, a considera simplesmente indigna de sua atenção(18). Costuma olhar com desprezo os seres de animo mesquinho, e nunca é capaz de considerar que exista alguém tão grande que mereça, e que olhar para ele cometa algo desonesto(19). Santo Tomas aplica ao justo que mostra este sã desprezo do humano aquelas palavras do salmo 24,4: A seus olhos o homem malvado não é nada. As características do magnânimo são a sinceridade e a honra. Nada lhe é tão alheio que calar a verdade por medo(20). O magnânimo evita como a peste, a adulação e as posturas retorcidas(21). Não se queixa pois seu coração não permite que se assedie com um mal externo qualquer(22). A magnanimidade implica uma forte e inquebrantável esperança, uma confiança provocativa (23) e a perfeita calma de um coração sem medo(24). Não se deixa render pela confusão quando esta não se dobra ante o destino: unicamente é servo de Deus(25).

A magnanimidade impõem assim um estilo de vida sinalado pela grandeza.  Ela tem atos próprios, mas Santo Tomas  também a considera “virtude geral” no sentido de que atua sobre todas as demais virtudes fazendo-as inconfundível: as faz heróicas e aristocráticas. Exerce também uma função de antídoto contra os simulacros das virtudes; em efeito, todas as virtudes morais tem dois vícios que se lhe impõem: um por excesso e o outro por defeito. Um deles (em cada virtude varia) guarda uma aparente semelhança com a virtude a que em realidade se opõem, assim, por exemplo, a temeridade se assemelha à fortaleza, a insensibilidade à temperança, o rigorismo à justiça, a falsa humildade à humildade, a astúcia a prudência. A magnanimidade, faz que cada virtude de o máximo de sua potencia, impede qualquer falsificação e é a característica dos santos, porque é a magnanimidade a que faz que as virtudes sejam virtudes heróicas.
Por isso é ela que em lugar de um cristão mortificado, faz um louco pela cruz como São Paulo ou São Pedro Claver; em lugar de um pobre faz um esposo da Dama Pobreza como São Francisco de Assis; em vez de um simples estudioso nos da um sábio como Santo Tomas, no lugar de uma alma com um medíocre zelo de Deus, da a Igreja um Roque Gonzalez, um Francisco Xavier, ou um Isaac Jogues; em vez de um cristão que confia na providencia nos da um Dom Orione totalmente abandonado em seus braços, etc.

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