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1. “Animas animosas”: natureza da magnanimidade[1]

Como seu nome indica a magnanimidade faz referência a grandeza de alma, anima magna. Por isso dizia Aristóteles que a magnanimidade é característica das almas que aspiram ao ótimo, as coisas superiores[2]. Seu objeto é “o grande”, e mais propriamente “o maior”, “o ótimo”: as coisas que sendo grandes não são “as mais grandes”, são somente matéria secundaria desta virtude.

Santo Tomas a definiu como “extensio animi ad magna”, extensão da alma às coisas grandes[3].  Pieper traduz esta expressão como “o compromisso voluntário de tender ao sublime”. Trata-se, portanto, de um verdadeiro apetite de grandeza. No entanto se diferencia essencialmente do apetite de grandeza que é a soberba, pois esta consiste no desejo de uma aparente grandeza; a grandeza baseada no reconhecimento alheio, no aplauso, na fama ou no poder. A magnanimidade, ao contrario,

é apetite de verdadeira grandeza, ou seja, da grandeza da virtude; é uma aspiração da grandeza própria das obras virtuosas. Por isso se chama “flor da virtude” e por isso também só pode ser magnânimo o homem virtuoso, diz Santo Tomas[4]. A Beleza é algo próprio de toda virtude, porque cada virtude tem sua beleza especifica, mas à magnanimidade acrescenta uma beleza que vem da grandeza da obra realizada: “a magnanimidade se acrescenta outra beleza pela mesma grandeza da obra virtuosa, já que obrar com magnanimidade faz maior todas as virtudes” [5].  Santo Tomas chega a afirmar que obrar com magnanimidade não é comum a       todo virtuoso, senão próprio dos muito virtuosos, dos que são grandemente virtuosos[6];  por isso atribui a Jesus Cristo, que sendo o mais virtuoso, também foi o mais magnânimo[7].

Diz-se que o magnânimo busca a grandeza. Para entender isso em seus justos limites deve-se dizer que busca principalmente a grandeza interior, ou seja, a glória intrínseca da mesma virtude. Aquilo que dizia São Bernardo, que o amar é a própria paga do amor, pode aplicar-se a toda virtude: a grandeza e o premio de toda virtude consiste no mesmo exercício virtuoso. O magnânimo se considera recompensado suficientemente só pelo fato de ter realizado um ato virtuoso. Só secundariamente o magnânimo aspira segundo as circunstancia, a gloria exterior da virtude, ou seja, a honra que a virtude merece[8]. Em quanto ao exterior, o magnânimo deveria, e de fato o faz se é virtuoso, menosprezar a glória humana; mas sabe também que o tributo externo resulta na honra da mesma virtude; por isso secundaria e subordinadamente às vezes pode aspirar a certo reconhecimento exterior. É o que diz São Paulo: que vossa moderação se torne conhecida de todos os homens (Fil 4,5); e o mesmo Cristo: brilhe do mesmo modo a vossa luz brilhe diante dos homens (Mt 5,16).

Diz Santo Tomas que o magnânimo busca a honra por três fins possíveis. Primeiro, para seu próprio bem, em sentido de que a honra que se tributa por sua virtude o afirma em seu desejo de grandeza e o anima à conquista da perfeição. Segundo, para o bem do próximo; porque sabe que naquilo no qual se sobressai é um dom de Deus que lhe foi concedido para proveito do próximo, excitando-o à virtude com seu exemplo de virtude que sobressai.
Finalmente, para Deus, porque sendo virtuoso ordena toda honra à verdadeira causa da virtude que é Deus: O que possuis que não tenhas recebido? E se recebestes, porque haverias de ensoberbecer como se não o tivesses recebido? (1 Cor 4,7).

Para compreender adequadamente esta virtude há que vê-la em relação com três virtudes principais: a fortaleza, a esperança e a humildade.


[1] Cf.Alfredo Sáenz, A magnanimidade, Rev. Mikael 19(1979); Pieper, J., as virtudes fundamentais, Ed. Rialp, Madrid 1980; Felice Adalberto Bednarski, L’educazione dell’affettività alla luce della psicologia di S.Tommaso d’Aquino, Ed. Massimo, Milano1986; Santo Tomas, Suma Teológica, II-II 129ss. 
[2] Aristóteles, Ética a Nicómaco, III, 5.
[3] Santo Tomaz, II-II, 129,1.
[4] In II Sent.,d 42,2,4.
[5] II-II,129,4 ad 3.
[6] II-II, 129,3 ad 2.
[7] III,15,8 obj. 2.
[8] II-II, 129,4.

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