HISTORIA DO 
INSTITUTO DO VERBO ENCARNADO 

A GRAÇA INSTITUCIONAL
"No domingo 3 de maio de 1981, enquanto estava confessando na velha capela da Paróquia 'Nossa Senhora do Rosário' de Villa Progreso (Província de Buenos Aires), creio que antes da Missa de 11 horas, ante o grande número de penitentes a quem eu só podia atender por uns poucos minutos, veio-me um pensamento, que expulsei imediatamente como sendo uma distração, sobre a necessidade de contar nas paróquias com comunidades sacerdotais.
Logo depois de almoçar e descansar na casa de meus pais, retornei à Paróquia e estando na casa paroquial, entre as 17 e 18 horas aproximadamente, veio-me um pensamento: que devia fundar uma congregação religiosa, com tal certeza que nunca duvidei nem pude duvidar de que Deus era o que queria isso. Igualmente fiz discernimento e exame para analisar se havia alguma causa prévia que poderia ser origem desse pensamento e não a encontrei....
Ao dia seguinte, o Pe. Loyola, a quem conheci com 6 anos de idade e o qual me tornei seu amigo aos 9 anos de idade, e me ensinou a ajudar a Missa como coroinha, por telefone me perguntou se eu sabia que dia tinha sido o anterior: 'Sim, disse-lhe, domingo 3 de maio'. 'Mas, que festa?'. 'Não recordo', respondi. 'A festa do Senhor da Quebrada!', respondeu. A feliz coincidência nos alegrou ainda mais, porque fomos muito devotos do Santo Cristo e tínhamos pregado ali muitos Exercícios Espirituais com muitos frutos de vocações sacerdotais e religiosas, e também, tínhamos pregado várias Novenas Patronais..."[1] .
Com estas palavras relatava o Pe. Carlos Miguel Buela a inspiração recebida de Deus há 25 anos, para iniciar uma obra que na atualidade está estendida nos cinco continentes e que conta com mais de 200 sacerdotes, e que supera o milhar, caso se contarem irmãos, seminaristas e religiosas. Na atualidade conta, também, com numerosos leigos, membros da Terceira Ordem.
O passo seguinte -e necessário- era procurar a aprovação de tal projeto por um representante da Igreja hierárquica:
"Tínhamos que encontrar um Bispo que avalizasse o projeto e o mais lógico pareceu que terei que começar por meu próprio Bispo, Dom Menéndez [2], que respondeu que não se sentia com forças para começar uma obra assim, que nos felicitava e abençoava, e que procurássemos um bom Bispo. Com o tempo, ao inteirar-se que era Dom Kruk [3], alegrou-se muito..."[4].
O começo da experiência de vida religiosa foi na diocese de San Rafael, uma pequena e humilde diocese da Argentina, localizada-se em uma pitoresca região do Sul da Província da Mendoza, muito perto da Cordilheira dos Andes. O início coincidiu com a Festa da Anunciação do Senhor, 25 de Março de 1984, dia em que todos os Bispos do mundo, em união com o Papa, consagravam o mundo inteiro ao Imaculado Coração da Maria; do mesmo modo, esse dia o Papa promulgava a exortação apostólica Redemptionis donum aos religiosos e religiosas. Como São Pedro Julião Eymard, podemos dizer que nossa congregação se fundou: "...o dia em que o Filho de Deus se Encarnou e a Santíssima Virgem se tornou a Mãe de Deus" [5].
ANOS DO CRESCIMENTO
Os primeiros anos (1984 - 1988) foram intensamente vividos, com o ardor e entusiasmo próprios de uma obra nova do Espírito Santo. A nova "seiva" que o Espírito infunde aos novos "brotos" de sua Igreja faz que, indefectívelmente, dita obra cresça e produza frutos, se os homens não puserem obstáculos.
A só um ano da fundação, uma doação permitiu que se pudesse viver a vida religiosa com a plenitude que se queria: pôde-se adquirir um pequeno imóvel do Toledano, de San Rafael (Rua El Chañaral, 2699); o "imóvel" destinado a ser a Casa-mãe do novo Instituto. Com a aprovação do Bispo de San Rafael, fundou-se em dito terreno a "Vila de Luján". A primeira Missa foi celebrada em 22 de fevereiro de 1985, Festa da Cátedra de São Pedro.
Pouco a pouco o novo Instituto começava a estender-se além dos limites da diocese de San Rafael: o primeiro lugar foi a diocese da Añatuya, Província de Santiago del Estero. Povos como Suncho Curral, Lojlo e Matará seriam as testemunhas das primeiras missões populares do IVE.
Em 1987, o Instituto do Verbo Encarnado ultrapassava as fronteiras de seu país de origem, dando os primeiros passos em ordem a concretizar seu projeto missionário: em fevereiro de dito ano, funda a primeira missão no Peru: na Paróquia do Limatambo, Diocese do Cuzco.
Em 1989 a presença se estendia a América do Norte: em 1 de julho entravam os primeiros sacerdotes do novo Instituto na diocese do Brooklyn, Nova Iorque (E.U.A.).
Poucos dias depois pôde concretizar-se algo que o Pe. Buela quis desde o começo para assegurar a formação de seus sacerdotes: uma Casa em Roma. Em efeito, em 24 de julho de 1989 uma congregação de religiosas italianas (as "Ancelle della Ssma.Trinitá") aceitaram que alguns padres do IVE fossem hóspedes em sua casa, localizada em Casaloti (diocese suburbana do Porto Santa Rufina). Isto permitiria contar com uma comunidade de sacerdotes que, além de ter a experiência da "romanidade" da Igreja, pudessem aperfeiçoar seus estudos nas Universidades Pontifícias da Cidade Eterna.
Mas este crescimento não só se verificava "para fora"; o vigor dos inícios se manifestava também "para dentro".
Em 27 de dezembro de 1987, Festa de São João Apóstolo, fundava-se oficialmente o Seminário Menor. Tinha começado no ano 1986 em uma das casas pré-fabricadas da Vila de Luján; em março de 1987 tinha sido transladado à Paróquia "São Maximiliano Kolbe" (primeira paróquia do Instituto em San Rafael), para logo se estabelecer na Rua Rawson, que seria o edifício definitivo.
Entretanto, o ano 1988 foi possivelmente o mais relevante quanto ao crescimento "interno" da nova família religiosa. Em efeito:
- Em 22 de fevereiro, Festa da Cátedra de São Pedro, funda-se o Noviciado masculino em uma Missa celebrada pelo Dom Kruk na localidade do Nihuil. O edifício destinado aos primeiros noviços foi uma casa em La Nora, localidade de Cuadro Nacional (San Rafael), casa cedida gentilmente pela família Baudry até que o Instituto pudesse contar com uma casa própria adaptada às necessidades de um Noviciado. Tal casa se pôde adquirir no ano 1989 em Rama Caída (San Rafael), e leva o nome do primeiro membro morto de nossa congregação: o do seminarista Marcelo Javier Morsella.
- Em 19 de março, Festa de São José, funda-se o Ramo feminino de nosso Instituto com o nome de "Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará". A idéia de um ramo feminino já tinha sido considerada como possível resposta à inquietação de várias jovens que tinham manifestado seu interesse por consagrar-se a Deus, segundo o "espírito" da nova família. A fundação foi uma realidade quando Deus concedeu as condições que se acreditavam indispensáveis:
"Já tínhamos feito várias tentativas para conseguir consenso para fundá-las, mas tinham sido em vão. Finalmente; em uma reunião de Conselho Geral na casa da rua Sardini, decidiu-se a fundação caso se cumprissem três condições: 1º Que um sacerdote dos nossos, de certa experiência, fosse responsável pelas mesmas; 2º Que aparecesse alguma vocação que pudesse ser Superiora; e, 3º que nos doassem casa onde pudessem viver as candidatas" [6].
- Em 25 de dezembro, fechando um ano excepcional para a vida do Instituto, funda-se o primeiro Mosteiro do Ramo contemplativo masculino: o Mosteiro "Do Verbo Encarnado", na localidade de Los Coronéis, de Cuadro Benegas (San Rafael). O que se pretendia com uma fundação deste tipo?
"Dentro da finalidade da família religiosa do Verbo Encarnado (evangelizar a cultura, prolongando assim o mistério da Encarnação) o ramo contemplativo com sua vida quer fundar no 'unum necessarium' (Lc 10, 42) toda a obra do Instituto, pois os religiosos dados unicamente à contemplação contribuem com suas orações a trabalho missionário da Igreja, 'já que é Deus que, movido pela oração, envia operários à sua messe, desperta a vontade dos não-cristãos de ouvir o Evangelho e fecunda em seus corações a palavra da salvação ... (Ad Gente, 40)" [7]
PROCURANDO A CONSOLIDAÇÃO
Em 23 de setembro do mesmo ano 1988 teve lugar o Iº Capítulo Geral Ordinário[8]. O Pe. Buela queria, dentro de suas possibilidades, e mesmo que não lhe exigisse nos primeiros momentos, viver a vida religiosa segundo as normas do Direito Canônico. Assim foi que, entre outras coisas, dispôs que as autoridades do novo Instituto fossem estabelecidas por eleição. Sobre 33 eleitores, os resultados foram os seguintes: Superior General: o Pe. Carlos Buela (32 votos); Conselheiros: os Pe. Alberto Ezcurra (28 votos), Ramiro Sáenz (26 votos), Carlos Nadal (25 votos), Carlos Loyola (13 votos), Reinaldo Anzulovich (9 votos) e Carlos Biestro (6 votos)[9].
Em abril de 1990 teve lugar um dos acontecimentos fundamentais em ordem à consolidação da nova congregação como Instituto Religioso: a possibilidade de contar com um Seminário religioso próprio. No dia 7 de outubro de 1983 (antes de começar a experiência de vida religiosa), Dom León Kruk tinha comunicado ao Pe. Carlos Nadal que outorgava a autorização ao IVE para fazer a experiência de vida religiosa em sua diocese e que aceitava o oferecimento de trabalhar pastoralmente no lugar que ele indicasse aos novos religiosos, mas que, além disso, ele acrescentava outro encargo: o dar início ao Seminário que tinha pensado fundar em sua diocese. Quer dizer, que à idéia inicial de formar a jovens que queriam compartilhar nossa experiência de vida religiosa, somava-se o pedido do Bispo de formar a seus próprios seminaristas. Assim foi que durante seis anos (desde princípios de 1984 a fins de 1989) a formação filosófico-teológica foi repartida conjuntamente a seminaristas religiosos e diocesanos no edifício do Seminário diocesano. Entretanto, a formação dos seminaristas religiosos para a missão tinha maiores exigências.....
Em 10 de abril de 1990 o Pe. Buela solicitava por escrito ao Dom Kruk a permissão para fundar um Seminário religioso, sem deixar com isso de atender as necessidades do Seminário diocesano. Poucos dias depois, em 16 de abril de 1990, o Bispo de São Rafael autorizava a fundação do Seminário religioso, que começou a funcionar na Vila de Luján com o nome de Seminário Maior "Maria Mãe do Verbo Encarnado". O fato de contar com um Seminário próprio facilitaria a tarefa de formar aos seminaristas religiosos de acordo ao fim específico do Instituto, por exemplo, a possibilidade de estudar grego, hebreu e as línguas modernas; enfatizar a dimensão pastoral da formação; encarar o estudo filosófico-teológico mediante o uso dos textos mesmos de Santo Tomás; incorporar como instrumentos de trabalho a computação; organizar Jornadas Tomista e Jornadas Bíblicas; contar com revista e edições próprias; selecionar melhor os professores; etc.
O ano 1991 foi um ano de transição, e isso foi determinado por dois fatos principais:
1) A viagem a Roma de quatorze sacerdotes do Instituto para realizar estudos superiores nas Universidades Pontifícias. Com os novos estudantes, a comunidade de sacerdotes em Roma passava a contar com vinte membros. Deste modo a presença da nova congregação no "coração" da Igreja começava a fazer-se importante.
2) A morte imprevista de Dom Leon Kruk, em 7 de setembro, em um acidente automobilístico, retornando da cidade de Mendonza para San Rafael. Com a morte deste grande pastor da Igreja e benfeitor da nova congregação, começaria uma difícil etapa para o Instituto em formação.
(Continuará)
EM PRÓXIMA ENTREGA:
A nova situação do IVE: entre luzes e sombras (1991-1995)
A intervenção: o período dos comissariados (1995-2001)
A Re-fundação do Instituto: III Capítulo Geral Ordinário em Roma (2001 .... )
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[1] Reminiscência, documento apresentado ao II Capítulo Geral Ordinário do IVE, em 15 de setembro de 1994, em ocasião de deixar o cargo de Superior General e fazer um balanço de seus 10 anos de gestão.
[2] Naquele ano, Bispo da Diocese de São Martín, Província de Buenos Aires.
[3] Dom Leão Kruk, Bispo de São Rafael, foi o Bispo que aceitou a proposta do P. Carlos Buela de iniciar uma experiência de vida religiosa em sua diocese, tutelando a incipiente congregação religiosa em seus primeiros anos de vida. Tal atitude do Bispo de São Rafael para o Instituto do Verbo Encarnado seria motivo de diversas dificuldades e incompreensões por parte de muitos Bispos argentinos.
[4] Reminiscência...
[5] Oeuvres complete, XII, 112.
[6] P. Carlos Buela, Reminiscência...
[7] Diretório de Vida Contemplativa, n.2.
[8] As atas estão assinadas pelos Pais Ricardo Coll, Carlos Morais e Ramiro Sáenz.
[9] A falta de experiência levou a que neste primeiro Capítulo Geral Ordinário se votasse a um membro que ainda estava em sua Diocese (P. Loyola) e a outro que estava no exterior (P. Anzulovich). Assim foi que em 22 de setembro de 1989 se realizou o Iº Capítulo Geral Extraordinário para escolher novos membros do Conselho Geral. Resultaram escolhidos os PP. Oscar Penha, Elvio Fontana e Arturo Ruiz.

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