Rezar com a Sagrada escritura


  1. O estudo das Sagradas Escrituras

Discutindo com os fariseus, Jesus mostra na cara seu pouco entendimento da Bíblia; não critica sua falta de leitura, senão seu ler sem entender: “não lestes o que fez  David e seus companheiros quando tiveram fome...? ou não lestes na lei que seus deveres sabáticos os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Digo-vos que aqui esta algo maior que o
Templo... Se soubésseis o que significa: Misericórdia é o que eu quero e não sacrifício...” (Mt 12, 3-7).

Se não estudamos, também nós leremos sem entender.

O estudo se orienta particularmente a inteligência da pessoa. Um estudo mais cientifico é de interesse principalmente nas questões técnicas, gramaticais, históricas, geográficas. Literárias, etc., da Bíblia. É muito útil e importante. Talvez nem todos estão chamados a esta tarefa; o sacerdote, ao menos deveria fazer a tentativa de ter um conhecimento cientifico das Sagradas Escrituras. E aos fieis não faria mal, ao menos em deseja-lo, como lemos nas formosas palavras de Santa Terezinha do Menino Jesus: “Não é triste ver na mesma Sagrada Escritura, tantas diferenças de traduções? Se eu fosse sacerdote, teria aprendido o hebreu e o grego, e não teria me contentado com o latim e assim poderia conhecer o verdadeiro texto ditado pelo Espírito Santo”(21).

A Sagrada Escritura deve ser estudada (e lida, se entende) dentro da Igreja. Ou seja, na grande tradução da Igreja e baixo o guia autentico e seguro do Magistério da Igreja. Eis aqui a grande duvida da teologia contemporânea que tem protestantizado a leitura e o estudo da Bíblia, submergindo em caos e nos mais sérios extravios ao mundo católico.

Não obraram assim os santos. Por exemplo a grande Santa Tereza de Jesus não desejava mais que interpretar o Cântico dos cânticos, sem sair do que tem a Igreja e os Santos”(22). E por este motivo busca aos “grandes mestres letrados”, porque “Deus os sustem para a luz de sua Igreja”(23). E deseja ardentemente “sempre procurar ir conforme ao que sustenta a Igreja, perguntando a uns e outros... que não a moveriam quantas revelações possa imaginar – ainda que visse aberto o céu- um ponto do que sustenta a Igreja”(24). Esta intuição teresiana nos recorda que o magistério tem “a missão de garantir a autentica interpretação, e de indicar, quando seja necessário, que tal ou qual interpretação particular é incompatível com o evangelho autentico”(25). 

São João de Ávila comentando aquele versículo do salmo Audi Filia que diz “inclina teu ouvido” (Et inclina aurem tuam) o aplica principalmente das Sagradas Escrituras contrapondo o “inclinar o ouvido” ao “levantar a vista”. Este ultimo acontece, segundo o santo, quando o coraçao quer entender os mistérios do livro sagrado com suas próprias luzes, quer, precisamente, “ver”, que tudo seja luz para ele, e não se resigna de ter que caminhar na sombra do mistério. Mas nestes caminhos, ele que quer caminhar em suas próprias luzes, se condena a cegueira: “...muitos...porque levantaram mais a vista do que inclinaram a orelha, tornando a luz em cegueira e tropeçaram na luz do meio dia como se fosse trevas”. Não atematiza o santo a sã tentativa de penetrar a Palavra Divina; pelo contrario, como demonstra seus próprios e eximios comentários, mas fustiga a pretensão de que neste terreno o ouvido, ou seja a docilidade do coração ao guia seguro do magistério e da tradição não seja o principal e determinante referente­: “e deves olhar que a exposição desta Escritura não há de ser por senso o engenho de cada um, desta maneira que coisa seria mais incerta que ela, pois comumente suele ter tantos sentidos quantas cabeças (ou seja cada interprete lhe da um sentido diverso), mas deve ser pela determinação da Igreja Católica, a interpretação dos seus santos, nos quais falou o mesmo Espírito Santo, declarando a Escritura que falou nos mesmo que a escreveram. Porque de outra maneira, como se pode bem declarar o que com espírito humano o que falou o Espírito divino. Pois que cada Escritura ou (seja cada passagem da Sagrada Escritura) deve-se ler e declarar com o mesmo espírito com que foi feito(26). E no entanto a toda a Escritura de Deus deve-se inclinar o ouvido, com grande reverencia mas inclinar com grande reverencia e particular devoção e humildade as benditas palavras do Verbo de Deus feito carne, abrindo vossas orelhas do corpo e da alma a qualquer palavra do Senhor, particularmente ensinado a nós pelo mestre, pela voz do Eterno Pai que disse: Este é meu Filho muito amado ao qual ponho meu bem querer ouvi-o. Sede estudioso de ler e ouvir com atenção e desejo de aproveitar estas palavras de Jesus Cristo. E sem duvida achareis nelas uma excelente eficácia que obra em vossa alma a qual não a achareis em todas as outras que desde o principio do mundo Deus tem falado e não há de falar até o fim do mundo”(27). E acrescenta pouco mais adiante: “ E contra esta Igreja não os mova revelação, nem sentimento de espírito, nem outra coisa maior ou menor, ainda que viesse um anjo do céu para vos dizer, porque como diz São Paulo, esta Igreja é coluna e firmamento de verdade e mora nela o Espírito Santo, que nem engana e nem pode ser enganado”(28).

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